Estreando a linha editorial “Vozes RP“, mais uma ação comemorativa aos 50 anos do Sistema Conferp-Conrerps, convidamos o Coletivo RPretas, iniciativa incrível, liderada por mulheres negras, que visa mapear os profissionais negros de relações públicas de todo o Brasil.

Mariana Moraes, Luana Protazio e Pryscila Galvão – Foto Facebook.

Você sabia que negros e pardos representam 54% da população brasileira? É isso mesmo, é o que apontam os dados da PNAD. E, apesar disso, ao entrarmos em diversos lugares da nossa sociedade não conseguimos identificar essa representatividade toda. Se olharmos para o contexto da comunicação, por exemplo, notamos isso em grande parte de departamentos de empresas e agências de comunicação. Para a Mariana, Luana e Pryscila, idealizadoras do RPretas, este cenário “reflete as duas facetas do racismo: institucional e estrutural“.

Questões como essas precisam ser trazidas à tona, precisam de espaço para discussão e reflexão. Por isso, no mês que é marcado por trazer ainda mais força para discussões sobre a Consciência Negra – que deve ser lembrada todos os dias -, o Sistema Conferp-Conrerps traz essa entrevista rica e potente com o Coletivo RPretas, que apontam questões de extrema relevância para a nossa sociedade.

Como surgiu a ideia do coletivo RPRETAS?

Em 2016 eu, Mari, junto com a Lu, integramos a equipe de comunicação da Semana do Hip Hop, que acontece todo ano aqui em Bauru e se tornou o maior evento do gênero na América Latina.

Entre um perrengue ou outro, rolavam várias brincadeiras com o fato de que a gente sempre tava correndo atrás da galera com as informações e aí veio essa piada falando alguma coisa das “RPretas em ação”.

Como a gente já se conhecia de outros ambientes, continuamos com a piada sempre que nos encontrávamos. E aí a Pry chegou em Bauru, eu e a Luana conhecemos ela em momentos diferentes, mas assim que as 3 conseguiram se reunir, a Pry já foi incluída na piada.

Na semana de 2018 eu não trabalhei na comunicação do evento, mas a Lu e a Pry sim.

Então teve uma festa feita pela produção do evento e rolou de nós três conduzirmos o som da noite. As meninas já faziam um som e eu arriscava umas tentativas.

A festa se chamava AFROnta e a partir dali a gente viu que podíamos trabalhar juntas, afinal, tínhamos em comum a paixão por relações públicas e pela cultura que vivenciamos desde sempre. Pensamos: “como podemos contribuir com essa cultura a partir do nosso conhecimento e ferramentas da área?”, foi assim que o RPretas deixou de ser uma brincadeira para sair mesmo do papel, por nós e principalmente por aqueles que fazem tanto para que o movimento Hip Hop em Bauru seja tão grande e tão forte. Essa é a maneira com a qual podemos retribuir.

Qual é relevância do assunto no momento atual?

As redes sociais atualmente são uma extensão de nossas profissões. Os conteúdos produzidos ali contribuem para a visibilidade e principalmente para o empoderamento de pessoas que estão buscando referências.

Há muito nossas referências eram todas moldadas em um padrão e enfiado a nós goela abaixo. Agora já podemos encontrar um arsenal de pessoas que nos inspiram, principalmente porque de uns tempos para cá muito se fala sobre diversidade, isso é um reflexo das cobranças por representatividade e o mercado percebeu que abordar essa temática dá lucro, mas só abordar de forma superficial não basta, ainda hoje nossa participação é limitada a encontros onde a única pauta é o racismo, seja lá qual for o âmbito em que estamos inseridos.

É preciso mudanças no interior das práticas, dos processos comunicativos, por isso o protagonismo é importante, pessoas plurais precisam estar nesses espaços para representar a realidade plural que vivemos.

Queremos mostrar que somos mais do que isso. Nós fazemos mais do que isso, sabemos sobre tantas outras coisas. Queremos ser chamados para debater sobre elas. 

Qual é o papel das relações públicas na área de movimentos sociais?

As relações públicas são de extrema importância em qualquer setor. No entanto, dentro dos movimentos sociais encontramos uma grande defasagem quando se trata de criar laços fortes através da comunicação, tendo em vista que nem sempre é algo que está no foco das pessoas.

Temos como uma de nossas maiores missões fazer com que as histórias que estão sendo contadas tenham importância e ganhem a devida atenção.

Qual é o principal propósito do coletivo?

Nosso principal propósito é conseguir visibilidade para tudo aquilo que vem sendo feito de forma independente e em função de criar autonomia. Queremos passar informação de qualidade, que faça com que os nossos sejam protagonistas da própria cultura e dos empreendimentos que construímos enquanto comunidade negra.

Quais são os planos para ações atuais e futuras?

No momento estamos trabalhando na lista de RPs negros e pautando a questão da invisibilidade desses profissionais no mercado e na academia. Nossa intenção é continuar contribuindo com essa discussão a nível nacional. Além disso, nosso foco são os projetos e produções culturais que acontecem em Bauru. Queremos promover esses eventos, usar a comunicação para disseminá-los e alcançar outros públicos, trazer a tona essas produções e quem está “no corre” para que elas aconteçam, sempre valorizando a perspectiva racial e periférica. Quem acompanha o RPretas pode esperar mais da cena cultural bauruense em nossos conteúdos e ações futuras.

E aí, gostou da entrevista concedida? Acesse o blog do Coletivo e veja a lista de relações-públicas negros/negras.

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